quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nunca morreria dentro de mim

Foi há três dias. Exatamente três dias que eu chamei meu filho para sairmos juntos. Ele tinha acabado de chegar do seu treino de futebol e, eu, do meu trabalho. Lembrei que há muito não saíamos juntos. E um programa pai e filho não faria mal a ninguém.

Ele topou.

Tudo foi perfeito. A lanchonete foi escolhida por ele. Bom gosto. Sentamos, pedimos o lanche, comemos. Conversamos sobre tudo. Foi ótimo poder ver que meu filho ainda gostava de mim. Bobagem eu pensar que não.

Saímos da lanchonete e dispensamos o carro. Resolvemos caminhar pela rua. Sentir o vento frio do fim de tarde.

Entramos numa loja de discos e eu disse que ele poderia escolher um. Ao gosto dele. Alguma coisa nova que ele estivesse gostando.

Foi ótima a sensação de poder estar com meu filho ali. De poder dar um presente a ele. Mas hoje, três dias depois, eu me pergunto se eu deveria ter entrado com meu filho naquela loja. Carregado meu filho para sua morte. Levado meu filho para aquele lugar invadido por bandidos. Frios. Cruéis. Bandidos que não hesitaram em atirar no peito do meu menino.

Voltei para casa dois dias depois. Não tinha conseguido dormir nas últimas horas. Minhas olheiras me consumiam e o cansaço vencia o meu corpo… As lágrimas já tinham secado…

No vazio da casa, o choro seco voltou a minha garganta. Aquilo ecoava pelas paredes da casa deserta.

Eu sabia que a visita ao quarto do meu filho era algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Achei que não deveria adiar por muito tempo. Não deveria adiar mais.

O quarto estava exatamente do jeito que ele havia deixado. O tênis e as meias jogados num canto do quarto, o uniforme do time de futebol deixado sobre uma cadeira com seu suor que havia secado nos últimos dias. Sua cama estava perfeitamente em ordem. A mochila da escola deixada no lugar de sempre, o violão…

Eu sabia que pelo resto da minha vida, pequenas coisas fariam que eu me lembrasse do meu garoto. Saí do quarto. Não chorei, porque não tinha mais forças. Não me faltou vontade.

Na sala, eu encontrei o livro jogado no sofá. Eu sabia que aquele livro era dele. Agora, eu me arrependi de não ter perguntado pra ele sobre aquele livro, sua história… Uma página estava marcada. Era ali que ele tinha parado de ler. E ele nunca mais saberia o final daquela história.

Deitei-me abraçado ao livro. Tinha acabado de decidir que eu terminaria aquela leitura. Contaria aquela o fim para o meu filho. E eu tenho certeza de que ele vai ouvir. Senti uma ponta dentro do meu casaco.

O CD. Seu último desejo realizado. E ele nunca chegou a usufruir, a gozar da sensação daquelas músicas. Essa banda seria minha banda preferida agora.

Tudo me fazia lembrar-se dele.

O meu filho nunca morreria. Nunca morreria dentro de mim.