domingo, 19 de dezembro de 2010

O Caso da bexiga tímida e do ídolo enjoado

[Nota: eu sonhei com essa história noite passada. Tentei ser o mais resumido]

João Gabriel é um jovem como qualquer outro: 20 anos, no segundo ano de Jornalismo, tem um carro recém-comprado e uma namorada linda.

Bruno Dias também é jovem, mas é rico, famoso e canta música sertaneja. Há dois anos, Bruno Dias era um nome anônimo; hoje é um dos mais falados no rádio e na televisão. Ele prefere viajar em seu jatinho, mas dessa vez a viagem era curta: resolveu seguir de ônibus com a equipe.

Fernanda, uma fã, descobriu essa informação sigilosa. Pegou seu carro e seguiu aquele ônibus gigante com o rosto do Bruno Dias estampado na lateral. O ônibus parou num posto. Fernanda, então, estacionou seu carro vermelho ali mais adiante.

E João Gabriel, o jovem como outro qualquer, também precisava parar naquele posto.

— Só um minutinho, querida — ele disse à namorada.

Ele ia ao banheiro. Mas ele sabia que, se o banheiro tivesse cheio, não seria só um minutinho. Era um problema popularmente conhecido como bexiga tímida. Precisava de absoluto silêncio e privacidade pra conseguir se aliviar. Ele entrou no banheiro e fechou-se num daqueles compartimentos. Claro! A bexiga tímida era contra os miquitórios coletivos.

A equipe do grande astro Bruno Dias desceu do ônibus e foi ao restaurante do posto. Fernanda ficou inconformada de não conseguir ver Bruno no meio daquele monte de gente. Onde estava Bruno Dias?

Dentro do ônibus, Bruno Dias estava verde de enjoo. Precisava tomar um ar. Aproveitaria para ir ao banheiro. Desceu do ônibus de boné e óculos na mesma hora que uns dez homens passavam pelo mesmo lugar indo exatamente para o banheiro.

Fernanda quase não notou o ídolo no meio daquele monte de homens. Ela correu atrás. Eles entraram no banheiro. Droga! Fernanda nunca tinha pensado que uma barreira tão simples a impediria de tocar no Bruno Dias.

E João Gabriel:

— Droga! Eu já tava quase lá e chega esse povo pra me atrapalhar.

Os homens eram evangélicos numa excursão. Alguns já tinha satisfeito as suas necessidades e conversavam animadamente. Enquanto outros, como Miguel, estavam esperando um dos “espaços privados” serem desocupados, pois tinham o mesmo problema de João Gabriel.

Pois é! O banheiro só tinha dois “espaços privados”. Um estava o João Gabriel; o outro foi cedido pelos evangélicos por um jovem desconhecido que estava a ponto de vomitar: Bruno Dias.

Fernanda lá fora pensava num jeito de chamar a atenção de Bruno. O astro sertanejo tava pondo as tripas pra fora. João Gabriel pensava numa cachoeira, numa piscina, numa torneira pingando. E Miguel estava se contorcendo de vontade de urinar.

Uma mulher lá fora começa a gritar: “Socorro! Socorro!”. Na mesma hora, vem um tarado na cabeça dos ouvintes. Os evangélicos aliviados saem em auxílio, mas Fernanda não quer ser achada por eles. Quer que Bruno Dias venha lhe socorrer. Ela fica escondida e os evangélicos pensam que foi brincadeira de alguém.

Depois da gritaria, João Gabriel perde a paciência. Abotoa a calça e sai. Prefere esperar mais duas horas de viagem. Fica aquela sensação ruim de dever não cumprido, mas é melhor do que os loucos quebrarem a porta e vê-lo de calças na mão.

Miguel deu graças e louvor ao senhor quando o banheiro foi desocupado. Foi uma sensação tão boa que tremia e se arrepiava.

Em questão de minutos todos os membros da excursão estavam aliviados e dentro do ônibus. Conversavam sobre a mulher que gritara por socorro e que ninguém conseguiu encontrá-la. Riam.

Atrás de uma árvore, Fernanda esperava. Cadê? Resolveu chegar perto da porta do banheiro. Diria que estava completamente vazio se não fosse por uma tosse no fundo do banheiro.
Entrou timidamente. Bruno Dias estava com a cabeça molhada, escorado na pia, olhando o espelho.

— Preciso de um copo d’água! — ele pediu.

Fernanda furaria uma cisterna para arranjar um copo d’água. Voltou segundos depois com uma garrafa d’água do restaurante.

Ajudou-o a tomar água. Ele e escorou em seus ombros e pediu que ela o ajudasse a chegar ao ônibus. Ela fez. Deitou-o numa cama.

— O que eu posso fazer pra te agradecer?

“Me dar um beijo”, ela pensou. “NÃO. Tenho que parecer inteligente.”

— Você me dá um autógrafo?

— Claro.

— Você tira uma foto comigo?

— Tiro, mas eu vou ficar feio!

— Não me importo. Ah, outra coisa... Você me dá sua camisa?

Foi o dia mais feliz daquela moça. Ela não queria nem tomar banho pra não tirar a sensação dos abraços e beijos de Bruno Dias.

E ela dormiria todas as noites com aquela camisa que tinha um cheiro misto de perfume caro, suor de homem, gente rica e vômito.

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