Se eu mandar uma carta pela internet, eu tô quebrando o
monopólio postal?
Oi, gente! A minha ideia inicial era fazer um vídeo narrando
tudo que está escrito abaixo, para que eu pudesse olhar dentro dos olhos de
cada um, e para que vocês pudessem perceber, dentro dos meus olhos, coisas que
não são transmitidas por palavras. Mas, por alguns motivos, decidi escrever
essa carta que é destinada a cada um e a todos vocês (ou qualquer outro que
queira ler). Depois de passarem quase um mês e meio com minha agradável
companhia, vocês perceberam que eu adoro contar histórias; não podia começar
essa carta de um jeito diferente.
Lembram-se do dia 11 de setembro, quando nosso primeiro
instrutor pediu que fôssemos à frente de toda a turma e nos apresentássemos?
Pois bem! Eu disse meu nome, minha idade, um monte de inutilidades (não me
lembro dessas inutilidades por estar hipnotizado por algumas belezas; e vocês
sabem às quais eu me refiro) e minha paixão: eu cursava — e ainda curso —
História. Eu disse olhando pra Marjorye, que a faculdade era o maior
investimento da minha vida. Mesmo assim, eu estava largando mão de todo o meu
tempo livre que eu gastava com estudos para trabalhar nos Correios. Percebam:
eu sou uma pessoa completamente contraditória (Reinaldo e Sarah sabem disso
mais do que todos).
Vim embora para Passárgada para Uberlândia e adorei o
meu primeiro dia de trabalho. Mudei-me para Prata (não vou falar sobre a cidade
para que ninguém me processe) e adorei o segundo dia de trabalho; e o terceiro,
o quarto, o quinto... Lembram-se de quando eu dizia que morria de medo de
chegar numa agência onde todos fossem metidos ou velhos retraídos? Então! A
agência de Prata estava longe de ser isso. Diverti-me muito com a família
Correios que vivia ali dentro (foi assim que eles se denominaram quando eu
cheguei lá numa terça-feira quente; muito
quente). Eu me senti em casa! A hora mais feliz do meu dia era quando eu
estava no guichê, atendendo os clientes, oferecendo AR e vendendo Telesena (eu
queria dar um beijo na careca do Edir Macêdo para agradecê-lo sobre
todas as técnicas que ele ensinou; ele é lindo demais! até meus relacionamentos mudaram depois
daquelas aulas de venda.).
E foi assim! Correios de dia, universidade à noite, estudos
no final de semana e quase nenhum tempo livre (apesar disso, consegui um tempo
pra ir ao show da Banda Uó! Marcos, viu a calça vermelha?). Minhas forças
terminavam... os 10% de energia que o Jairão sempre me disse que era possível
encontrar dentro de mim estavam acabando. Eu sabia que eu não ia conseguir: não
era falta de fé em mim mesmo; era a minha saúde física e psíquica que estava em
jogo (adoro fazer um drama!). É sério! Eu tive uma crise de ansiedade no meu
quarto na casa do meu tio. A partir daí, comecei a pensar em algumas coisas.
“O que mais surpreende
é o homem,
pois perde a saúde para juntar
dinheiro, depois perde o dinheiro
para recuperar a saúde.
Vive pensando ansiosamente no futuro,
de tal forma que
acaba por
não viver nem o presente,
nem o futuro. Vive como se
nunca fosse morrer
e
morre como se nunca tivesse vivido.”
Dalai Lama
Dentro do meu quarto
no Normandy, tive altas conversas com o Reinaldo sobre sonhos; dentro do ônibus
dos Irmãos Lessa, eu conversei sobre planos com o Ronan (provavelmente você não
se lembra); o Jairão me deu altos conselhos; e conversei sobre a carreira do
Lincoln. Vocês me ajudaram a permanecer em BH durante o treinamento e, junto de
vocês, tudo fazia sentido: o otimismo da Patrícia, a despreocupação da Natália
(casar pra que, seu Nacib?) e da Mara, o sono da Brenda, a dedicação da
Marcélia e da Michele, a beleza do César, a força da Grace, a ar
responsável dos Rafaéis, os sorrisos das Maíras e a coragem do Gustavo e do
Edmilson. Aqui, no mundo real, os fatos não se organizavam mais.
E o que eu tinha dito
no início do treinamento? Eu amo o curso que eu faço! Foi só pensar em me
tirarem isso, por um minuto, para eu
perceber que isso aqui na UFU é minha vida. O mundo não sente nenhum pouco de
pena de cortar nossas asas, destruir nossos sonhos e nos engaiolar numa jaula
cinzenta. Eu tinha essa chance de realizar os meus sonhos e viver num mundo
arco-íris (gay!), mas eu ainda insistia em seguir o caminho errado. O que eu
estava fazendo, meu Deus?
Na semana passada, eu
desisti dos Correios! Não sinto nenhuma culpa por isso, porque eu estou perseguindo
o que eu sempre sonhei. Eu não preciso ter um salário bom; eu só quero realizar
os meus sonhos (quem sabe eu possa pagar uma viagem pra Disney em 36x). Pessoas
morrem todos os dias e eu não quero acabar minha vida enjaulado numa vida
medíocre, que não me dá prazer, que não me satisfaz, que não me tesão, porra!
Jairão, eu disse que eu não conseguia ser sério! Eu quero ser professor,
artista, poeta; e não contar moedas de cinco centavos diariamente.
A frase do Dalai Lama
foi uma das minhas inspirações, mas eu recebi o apoio dos meus pais,
professores, familiares e amigos. Estou me sentindo a melhor pessoa do mundo. Eu
estava tentando me convencer de que eu estava feliz; mas eu não sabia o que era
a felicidade: agora eu sei, pelo menos um pouquinho, o que é isso. Eu vou
tatuar a imagem acima (a da gaiola e dos passarinhos) na minha panturrilha definida
e peluda para marcar esse momento, para que eu não me coloque novamente
dentro de uma gaiola sem graça, sem vida. Minha mãe ainda não sabe da
tatuagem, mas não precisa ficar sabendo. Mãe, essa carta não é pra senhora!
Para de ler!
Eu quero encontrar com
vocês e mostrar o tamanho do meu sorriso, o tamanho da minha satisfação;
mostrar o quanto eu estou realizado. Não quero servir de exemplo, mas pensem:
não se esqueçam dos seus sonhos. Eu tenho consciência do tamanho minúsculo da
minha vida; e não quero que ela passe e eu perceba que tudo que eu fiz foi em vão.
Beijo na boca,
É nóis que voa,
bruxão.
Lucas Reis