quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Se meu cachorro falasse...

Alguns dias atrás, eu contei a minha experiência com crianças. Então, eu resolvi contar porque eu prefiro os cachorros.

Dona Marta era uma mulher muito exibida que ia num supermercado que eu trabalhei. Era proibida a entrada de animais, mas ninguém se atrevia dizer isso pra ela. Luli era como uma filha para dona Marta.

Ela chegava com essa cadela no colo e, às vezes, até perguntava coisas para ela. Não sei se ela esperava uma resposta. Se esperava, eu terei a certeza de que dona Marta era louca de pedra.

De vez em quando, dona Marta preferia soltar Luli para ela passear pelo supermercado.

Não seria eu que ia dizer:

— Dona Marta, cachorros não são permitidos nesse estabelecimento.

Eu ficava até imaginando a resposta dela.

— Olha, aqui, Roberto — como minha mãe me chamava para dar bronca, — a Luli é mais humana que muita gente por aqui. Ela é mais educada que alguns adolescentes que trabalham num supermercado, mas que eu prefiro não citar o nome.

Então, eu deixava essa Luli andar pelo supermercado. Pelo menos não era macho. Porque macho que levanta a perna e urina na parede pra depois o escravo aqui limpar tudo com uma flanela.

Como todo maldito cachorro de madame, Luli tinha um latido insuportável; aquele latido agudo, com aquela boca miúda, com o nariz empinado achando que manda em alguma coisa.

Tudo bem... Um dia eu aguento. Dois, três, quatro... Já não estava mais aguentando esse bicho. Eu não podia ver essa maldita Luli na minha frente. Às vezes, ela latia tanto que eu ia dormir com o som desse animal.

E aí vem minha preferência pelos cachorros insuportáveis do que pelas crianças insuportáveis.

Quando uma criança me irrita e eu aperto o dedo dela, ela chama a mãe, mas quando é um cachorro...

Luli continuava latindo e minha cabeça já estava latejando de tanta dor. Sem que dona Marta visse, eu chutei esse maldito cachorro para longe. Ele veio latindo mais raivoso ainda. Tá. Mais um chute não faz mal a ninguém.

Ele começou a fazer aquele som agudo de choro. Dona Marta veio correndo para acudí-la.

— O que aconteceu, Luli? Você se machucou?

Luli continuou calada. O que era para se esperar.

— Você viu o que aconteceu, Beto?

— Não, dona Marta. Eu não vi nada.

Ela foi embora.

Por isso eu prefiro os cachorros.

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