domingo, 4 de outubro de 2009

Na saúde e na doença

Veja a última publicação dessa série aqui.

(A chuva tinha acabado de cessar. Doraci entra no carro, bate a porta e espera. David entra na porta do passageiro, fecha a porta e olha para Doraci.)
DAVID: Será que você precisa mesmo dirigir?

DORACI: Eu acho que você nem merece uma resposta, David. De longe dá pra ver que você bebeu mais que motor de carro velho.

DAVID: Desnecessário, viu? Desnecessário! Podia ter dormido sem essa.

(Doraci roda a chave e o carro segue. Ela tamborila os dedos enquanto David olha para frente com um olhar perdido.)
DORACI: Você não me respeita mais, David!

DAVID: O quê? Eu não estava prestando atenção.

DORACI: Você não me respeita mais. Não há uma pessoa naquela festa que não tenha percebido que você estava dando em cima daquela mulherzinha.

DAVID: Mulherzinha? Dando em cima?

DORACI: Não se faça de imbecil. Você estava dando em cima, em baixo e dos lados. Eu percebi que você fazia de tudo para encostar seu corpo ao dela. Ia pegar um copo na mesinha, chegava o corpo para frente para encostar-se no joelho dela. Ia cumprimentar alguém, levantava a mão para depois passá-la no cabelo dela.

DAVID: Doraci você está fazendo… está fazendo… como é que é mesmo? Mau… Mau julgamento da minha pessoa. Entendeu? Você não estava… não estava vendo direito.

DORACI: Está me chamando de maluca?! David, eu vou jogar o carro nesse precipício.

DAVID: Doraci, não faça isso! Você está descontrolada!

DORACI: O QUÊ?!

DAVID: Não. É… Eu não sei o que eu disse.

DORACI: Confessa que você estava se jogando para cima daquela safada.

DAVID: Doraci, confissão com ameaça eu acho que não é válido.

(Doraci freia o carro.)
DORACI: Agora você pode me dizer?

DAVID: Olha, Doraci, você não entendeu… as coisas direito. Aquela mulher é que estava se
jogando para cima de mim.

DORACI: Isso é verdade? Isso é verdade? Porque se for verdade eu volto lá e mato aquelazinha. É VERDADE?

DAVID: É, Doraci. Mas eu acho que não tem necessidade de voltar lá, né? Bobagem.

DORACI: Eu vou matar aquela mulher.

DAVID: Doraci, não culpe a moça. Talvez ela nem estivesse fazendo por querer. Achou que eu estava no meio da brincadeira. Só quase na hora de vir embora que eu percebi que aquela loira estava me passando a mão.

(Doraci fecha os olhos e respira fundo. Olha para David com o olhar mais maligno que conseguiu.)

DORACI: Que loira? De que loira você está falando, David? Eu vi uma morena te encostando, e não uma loira.

DAVID: Ah, é! Pois é! Eu nem percebi.

DORACI: VOCÊ NÃO PERCEBEU? Quer dizer então que numa hora você estava com uma morena, depois no final da festa foi farrear com uma loira.

DAVID: Doraci, eu não estou em condições de fazer de fazer julgamentos tão complexos. Duas horas da manhã…

DORACI: Estou pensando naquela frase do padre: Até que a morte vos separe.

DAVID: Então, vá morrer sozinha. (David desce do carro. Doraci também desce do carro e dá a volta até chegar ao David que ia longe pela rua.) O que aconteceu? Resolveu pular sem o carro?

DORACI: Eu te odeio, David. (Ri. Corre e abraça-o.) Você é o ser mais desprezível do mundo.

(Se beijam. A chuva volta mais forte.)
DAVID: É melhor voltarmos para o carro antes que molhe o estofamento novo.

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