quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tiago, o anjinho

Crianças são seres tão puros, mas de vez em quando eu, Beto, me permito ficar com raiva de algumas delas.


Trabalhava num supermercado quando eu conheci o Tiago; uma gracinha de menino. Cabelo arrumadinho, a roupa limpinha e com uma carinha de anjo: bochechas rosadas e sorriso meigo. Mas não se enganem com a aparência.


Ele chegava ao supermercado e gostava de tirar tudo dos lugares. A mãe dele, uma mulher rica e bem educada, pedia para que ele largasse as coisas, e ele imediatamente obedecia. Porém ele não estava completamente satisfeito.

Ele já tinha acabado com a sua cota de bagunças em frente à mãe, por isso, agora, ele ia aprontar escondido.

Rodeava o balcão e me jogava coisas na cabeça. Tudo bem, eu sou acostumado com algumas crianças assim.

— Olha, Tiago, não faz isso com... — ele me interrompia com outro objeto na cabeça.

Eu levantei a cabeça, com um pouco de impaciência com esses meninos mimados, e ignorei. Mas o pestinha não parou de me jogar coisas.

No dia seguinte, a mãe e o filho apareceram de novo no supermercado. O Tiago aprontou algumas, depois de a mãe ralhar com ele, ele rodeou o balcão e, com uma zarabatana, soprava pedrinhas no meu pescoço.

— Tiago, o tio não está... — ele novamente me interrompeu com uma pedrinha na testa.

Eu fiquei, realmente, muito, muito irritado. Olhei para ele com um olhar muito assustador.

— Olha, aqui, garoto. Algum dia eu vou descontar.

O menino cerrou os olhos, encheu os peitos de pulmão e gritou:

— Mamãe!

Mas que merda.

O menino trouxe a mãe pelo braço. A mulher muito preocupada perguntou para o filho o que era.

Ele olhou nos meus olhos e depois para a mãe.

— Não é nada, mamãe. — E sorriu para mim. E, assim, seguiu durante muitos dias. Numa quinta-feira, ele chegou com um estilingue. Ele trazia pedras maiores no bolso da calça e eu já esperava um calombo na testa.

Seguiu-se o ritual e ele rodeou o balcão e começou a me arremessar pedrinhas.

Eu tentei ignorar, mas ele insistia. Eu tinha um plano e esperava que não demorasse tanto, senão o menino furaria meu olho.

Rápido, rápido, rápido.

Parecia que o fundo do bolso não existia. Umas vinte pedras, eu acho, me acertaram.

— Tiago Fernandes do Nascimento!

Demorou, mas a mãe do garoto apareceu.

— Desculpa, moço, mas o meu filho é um pouco levado.

Achei sinceras suas desculpas, mas não sarou minha canela roxa do dia em que ele me deu um chute.

— Tudo bem — eu respondi.

Ela nem comprou o que queria. Saiu puxando o garoto pelo braço.

Tiago virou de costas, sem a mãe ver, e me mostrou a língua. Eu também senti muito prazer em mostrar a minha.

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