terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quanto mais zero melhor

Oi, tá jóia?

Num domingo qualquer, vendo televisão sem prestar muita atenção, eu vi esse comercial super legal. Assim... não se pode levar a minha opinião muito a sério. Como diz meu pai, tudo que passa na televisão eu acho legal [Risos].

Mas esse é realmente legal.

É a nova campanha publicitária da Coca-Cola Zero - Quanto mais zero melhor. É muito legal. Eu queria ser criativo o bastante pra poder passar uma mensagem sem usar nenhuma palavra. Aperta o play ali embaixo e sente o drama.

Até mais!

sábado, 27 de agosto de 2011

Chega junto, morena!

De dia, um trabalhador dedicado e eficiente. Sempre saía de casa antes do sol nascer, com o uniforme azul surrado, o boné e a bicicleta de barra circular. Leva a marmita na garupa e só volta pra casa à tardinha. Dorme cedo todos os dias. Menos nas quintas: o dia do samba da comunidade!

Aí, ele se transforma!

Toma um banho caprichado e veste a sua melhor roupa. Usa um sapato lustroso, uma camisa verde por dentro de uma calça bege e abusa do gel nos cabelos ralos. Tem um relógio barato, uma corrente do camelô e o cheiro de Leite de Colônia o acompanha. Usa o celular preso no cinto e a foto de uma mulher desconhecida brilha na tela.

Ele tem uma presa pra hoje: a mulata do vestidinho curto.

E ele vai com seu jeito malandro, conversando com todo mundo, cumprimentando um conhecido ali e outro aqui e vai indo. De mansinho. Suas roupas não combinam, mas seu sorriso no rosto e seu carisma à flor da pele conquistam muitos sorrisos. Esbanja simpatia!

Na gafieira, a mulata dança sozinha. Seu vestido vermelho, que está a alguns palmos acima do joelho, balança com o seu swing. Tem os cabelos encaracolados e o sorriso branco que iluminaria um quarto escuro. E os lábios cobiçados pelo nosso personagem! Ma-ra-vi-lho-sa.

E o simpatia vai chegando devagarinho, com o seu gingado no ritmo do pandeiro. E vai rondando a morena que se anima com o molejo e dá condição. Dá espaço pro neguinho mostrar a que veio.

Do outro lado do salão, um brutamontes tá de butuca. Tá com uma camiseta listrada apertada nos braços grandes e na barriga malhada. Ele vê o neguinho com sua morena. Esse “sua” é por conta dele.

Ele se aproxima com a delicadeza de um boi estourado e já chega junto. Passa a mão em volta da cintura larga da mulata e ela se deixa levar com o sorriso sempre aberto. O nosso personagem da camisa verde se sente diminuído. Na verdade, qualquer um se sentiria diminuído ao lado daquele homem do tamanho de um armário.

O grandão resolve buscar uma cerveja. Antes de se virar, deu aquela olhada pro mirradinho da calça bege. Demarcou o território e mostrou quem é que manda. Mas o nosso personagem não se sentiu intimidado.

Na primeira oportunidade, agarrou a mulata pela cintura e foram juntos no requebrado. O cara sabia conduzir bem e a mulata era ótima parceira de dança. Pés de fada: nem tocavam o chão!

E o samba continuava. O brucutu tava longe com as latinhas na mão e a o mirradinho só na maciota com a mulata.

Mas o grandão viu aquele assanhamento e ficou irado com aquilo. Era de se esperar que um homem daquele tamanho tivesse um ego gigantesco e um cérebro do tamanho de uma ervilha.

Chegou com violência. Jogou a cerveja no chão, empurrou alguns casais que dançavam e já chegou desgrudando o homenzinho da cintura da moleca. Deu um espaço e, num golpe só, derrubou o outro no chão.

Ele ficou meio tonto. Sentiu o gosto de sangue na boca e tentou se levantar. Talvez agarrasse o brucutu pelas costas, prendesse as duas pernas no peito dele e tentasse derrubá-lo pra trás. Mas o golpe tinha sido forte. Ele estava humilhado. Preferia voltar pra casa. Segurou pra não chorar, coitado!

O grandão sorriu satisfeito e voltou-se pra morena. A dança ia continuar como se nada tivesse acontecido. Na cabeça dele, quase vazia, nada tinha realmente acontecido: era apenas um acidente de percurso.

Ia dar um beijo na morena, mas ela tava com a cara feia. Tentava afastar o rosto e se desvencilhar daqueles braços apertados. O homem a soltou sem saber o motivo daquele desinteresse repentino. Oh!

A morena mostrou que também sabia intimidar com o olhar. O grandão quase caiu de costas com aquela fuzilada que tinha levado. Ela jogou os cabelos pro lado e o vestido esvoaçou quando ela foi atrás do homem humilhado.

Ele estava de costas e só sentiu uma mão delicada no seu ombro. Ele se virou e a morena exibia o seu melhor sorriso brilhante. Ele engoliu seco. Ficou feliz, mas com a pulga atrás da orelha. Deu uma olhadinha por cima do ombro da morena. Campo limpo! Sorriu.

A morena tinha pegada. Deu-lhe um beijo no pescoço, outro na bochecha. O homem tremia dos pés a cabeça e teve a sensação de estar no corpo de outro sortudo.

Ela sorriu.

— O resto... Ah, o resto você vai ter que me convencer.

Ai, que bom que a noite é uma criança!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

De volta pro futuro


"Liguei para Lillian com a sede de um homem que precisa de água depois de um trago de mescal.


Valeu a pena.

— Tres? — disse ela, e arrancou fora os dez últimos anos da minha vida como se fossem lenços descartáveis.

— É. Estou na minha casa nova. Mais ou menos.

Ela hesitou.

— Você não me parece muito feliz.

— Não é nada. Conto depois.

— Não posso esperar.

Ficamos em silêncio por um minuto — aquele tipo de silêncio no qual nos inclinamos sobre o fone, tentando nos espremer para dentro com força.

— Eu te amo — disse Lillian. — É muito cedo para dizer isso?

Engoli a bola que estava entalada na minha garganta.

— Às 9 está bom? Preciso resgatar o Fusca na garagem da minha mãe.

Ela riu.

— A Coisa Laranja ainda funciona?

— É bom que funcione. Tenho um encontro quente hoje à noite.

— Pode ter certeza.

Desligamos.

(...)

Senti como se fosse 1985 outra vez. Ainda tinha 19 anos, meu pai estava vivo e eu ainda amava a garota com quem planejava casar desde o oitavo ano. Seguíamos pela estrada I-35 a 110 por hora em um Fusca velho que não passava de 100, bebendo tequila de primeira com refrigerante vermelho Big Red. Champanhe de adolescente.

Mudei de roupa mais uma vez e pedi um táxi. Tentei me lembrar do gosto de Tequila Vermelha. Não sei se conseguiria voltar a beber algo parecido e sorrir, mas estava pronto para tentar."

Trecho do livro "Tequila Vermelha", de Rick Riordan, com os personagens Tres Navarre e Lillian Cambridge.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tá me chamando de velha?


Um jovem se sentou num banco do ônibus. Sol quente, fim de tarde, ônibus lotado. O rapaz vê uma mulher com dificuldade pra se manter em pé com o ônibus em movimento.

— Senhora — o rapaz chamou —, pode ficar com meu lugar!

— Por quê? Tá me chamando de velha?

— Hã? Calma, eu só achei que...

— Tá me chamando de velha? Porque se ‘tiver, me fala agora!

— Na verdade, eu só tô dando o meu lugar pra senhora.

— Senhora?

— Calma. Eu... eh... assim... Eu falo “senhora” por educação.

— Por educação com os mais velhos!

— E a senhora é realmente mais velha que eu. Mas eu não tô te dando meu lugar por causa da sua idade, mas por causa do seu filho — disse apontando para a barriga da mulher.

— Filho?!

— É. A senhora não pode arriscar perder o seu bebê. O ônibus tá...

— TÁ ME CHAMANDO DE GORDA?

— Claro que não! Eu só... eh... eu... só pensei que... Mas a senhora tem que ter consciência que a gravidez traz certas...

— Eu não estou grávida!

— Ah, não? Mas eu jurava que...

— Você jurava que eu estava grávida por causa do tamanho gigantesco da minha barriga? Diga o que quer dizer! Quer dizer que a minha barriga parece uma pochete? Então, diga logo!

— Eu... não... queria dizer nada disso!

— Não me engane com suas palavras. Diga logo que eu pareço uma baleia.

— Pensando bem... eu acho que a senhora nem poderia estar grávida.

— Por que? Eu sou velha demais pra ter um filho? É isso? Diga logo que eu tenho a idade de ser a sua mãe.

— Na verdade, não! Mas... eh... o... o que eu quis dizer é que sua blusa muito colorida deu um... efeito, sabe? Tipo uma ilusão de ótica!

— Eu também sou brega?

— NÃO! De jeito nenhum. Acho a senhora até muito estilosa.

A mulher concorda.

— Então... ainda quer ficar com meu lugar? — ele disse apontando para o banco. Uma moça com boina e fone de ouvido já tinha tomado o lugar dos dois.

— Ei, esse lugar era meu! — Ela não ouviu nada. — EI! ESSE LUGAR ERA MEU!

Ela tira o fone com indiferença.

— O que você disse? — com uma sobrancelha arqueada.

— Ah, esquece!

— Esquece nada! — a mulher complexada entra no assunto. — Aqui tem uma mulher grávida querendo se sentar.

— Quer enganar quem, tia? Eu ouvi a conversa de vocês.

— TIA? Tá me chamando de velha?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aniversário do Atrás do Horizonte [2]


O Atrás do Horizonte faz aniversário, mas quem ganha é você!


Eu queria muito falar isso, mas esse humilde blogueiro está devendo até as cuecas. Literalmente. Eu queria fazer um sorteio, uma promoção, uma coisa diferente, mas... fica pra depois.

Voltando ao assunto:

Ai, que lindo, gente! O meu blog tá completando dois aninhos. E quanta coisa já passou por aqui. Eu tento não fazer um texto com esse clima de retrospectiva, mas... eu não consigo. Minha mente já é treinada pra fazer isso.

Sei lá! É legal a gente lembrar tudo que a gente já passou, né. E esse blog, nos últimos dois anos, se transformou numa válvula de escape da minha realidade. Eu adoro cuidar dele como se fosse uma extensão do meu corpo [Ai, meu Pai! Começou, né!].

Nesse último ano, eu enlouqueci com o vestibular (Socorro, 22 de setembro de 2010) e com as provas finais do Ensino Médio, votei pela primeira vez (Eleições 2010, 03 de outubro de 2010), fiz 18 anos (18 vantagens de ter 18 anos, 07 de outubro de 2010), mudei de cidade (Yes, I can!, 27 de fevereiro de 2011) e tive muito tempo para pensar na minha vida (Preciso de terapia, 05 de julho de 2011). Cabeça vazia é a oficina do diabo!

Meu eu
Não tenho muita coisa pra falar. Poderia escrever um texto gigantesco, mas só quero dizer: Muito Obrigado.

Primeiro, eu agradeço ao blog. Eu sempre sonhava em ter um blog só pra falar um monte de besteiras, mas nunca imaginei que ele pudesse me ajudar tanto. Então, obrigado blog. Apesar d'eu detestar o seu nome, mesmo tendo sido eu o criador desse título, eu te amo, tá?

E agradecer aos leitores. Oh, coisas mais fofas! Obrigado por lerem os textos e comentarem. Muita gente não comenta no blog, mas eu recebo elogios e muitos xingamentos pelo Orkut, Twitter, SMS e telefonemas. Obrigado mesmo!

Que situação

Na verdade, de uns tempos pra cá eu tenho que tomar cuidado com tudo que eu escrevo no blog. Qualquer coisinha pequena, já tem umas 10 pessoas vindo pra cima de mim me questionando o motivo pelo qual eu escrevi aquilo e blá blá blá.

Gente, salvando algumas raras exceções, os meus textos são todos sem lógica, escritos sem nenhuma pretensão, nenhuma mensagem implícita [tô falando chique, hein]. Exponho situações que me vieram na cabeça num momento aleatório, sabe?

Querem exemplos? Se não quiserem, eu vou dar assim mesmo! Exemplos, viu?

Exemplos
Na funerária com um chicote (19 de fevereiro de 2011). Algumas pessoas poderiam pensar que eu trabalhava numa funerária ou que eu sou um maníaco sexual que gosta dessas coisas do outro mundo.

Pra começar, eu morro de medo de funerária. E segundo... deixa o segundo pra lá. Mas eu tive a ideia desse texto quando eu passei do lado de fora de uma funerária e fiquei olhando aqueles caixões gigantes. A minha imaginação me levou a pensar o que se poderia fazer dentro daquilo. [Eu ia fazer uma observação, mas... quanto mais eu falo, pior fica.

O caso da bexiga tímida e do ídolo enjoado (19 de dezembro de 2010). Eu até coloquei uma nota nesse post: foi um sonho. Eu não sei se alguém leu esse texto gigantesco, mas quem leu deve ter pensado: que sonho infeliz foi esse? Quem sonha com uma pessoa com vontade de ir no banheiro, com uma excursão evangélica e com um cantor sertanejo enjoado?

Pois é! Meus sonhos são mais complexos que esse texto. Não dá pra descrever todas as cores, luzes, texturas e cheiros que eu sinto. Acho que sou paranormal.

Minha vida por um fio (03 de novembro de 2010). Outro sonho. Eu acho que esse ficou muito melhor descrito que o outro. Eu fico tenso lendo isso.

Quem me conhece sabe que eu morro [morro, morro, morro] de medo de assalto. Na hora do assalto [tenho experiência nisso] eu fico com medo, mas depois eu fico numa raiva desgraçada do infeliz que me fez ter medo. Nesse dia eu sonhei que tinha sido morto. Olha que paranoia! Gente, sonhos não se explicam. Aparecem do nada!

Sábado de manhã (24 de junho de 2011). Eu não ia postar esse texto, mas resolvi na última hora. Depois eu pensei: hoje sim, será o último dia desse blog. Vou ser excomungado. Até hoje eu fico pensando de onde eu tirei isso.

Eu lembro que eu tava indo pra faculdade, num ônibus lotado e essa ideia me veio na cabeça como uma pedra jogada por um pivete na rua [eu sou um poeta]. Mas é isso. Sem nenhuma pretensão.

Gatas e Gatos! Urgh! (25 de março de 2011). Agora sim! Existem exceções! Nesse dia eu tava muito louco. Eu tava num momento todo revolts, peguei umas imagens na internet, cortei cabeças [eu sou muito mau] e fui escrevendo loucamente. No final, foi como se eu tivesse espremido aquela espinha nas costas que fica te incomodando durante um dia inteiro. Me senti até um pouco cansado por ter colocado tudo pra fora [owa!].

Atrás do Horizonte em números
Desde o último aniversário do blog, foram 365 dias, 116 posts, 147 comentários, 27 seguidores, 1 pódio no Blorkutando (Rock e Bossa Nova, 30 de março de 2011), inúmeros desentendimentos e incontáveis tentativas de explicar que eu só pareço louco. Porque eu sou pior do que isso!

Muito obrigado!

domingo, 14 de agosto de 2011

Meu pai é foda


Eu amo esse homem! Eu admiro e me espelho nesse homem desde sempre. É engraçado como é essa ligação de pai e filho. Principalmente de uns anos pra cá eu percebi que meu pai é um super herói. O meu super herói! O homem mais forte do mundo, que não tem medo de nada e que enfrentaria todos os monstros por mim. Ele é o cara!

Meu pai é o homem cheio dos pensamentos profundos, das frases feitas e das piadas prontas. E eu, que não sou bobo nem nada, aprendi muita coisa com ele. Eu acho que ele nem tem consciência de tantas coisas úteis — e inúteis — que ele me ensinou.

Meu pai é o homem que me ensinou que cabeça vazia é a oficina do diabo e que homem de chinelo vale a metade. Foi ele que me ensinou que não se deve dizer c* doce e sim ânus glicosados.

Foi ele quem me explicou o que era motel, marmelo e cheque especial; que disse que Big Brother e Copa do Mundo é tudo combinado; e que o sangue na televisão é de ketchup.

É esse homem que tem métodos maravilhosos contra fobias, como deixar uma pessoa (eu) no meio do mato, à noite, sem nenhuma lanterna. E ele é o único que me acorda puxando o meu pé ou batendo na parede do meu quarto.

Foi com o meu pai que eu aprendi que doce tem que se comer muito. Não é só um pedacinho de nada, não! Tem que comer pra encher a boca, como se fosse uma segunda refeição.

E foi meu pai que me levou na carroceria do carro no meu primeiro dia de aula; era ele que eu chamava pra me ajudar nos exercícios de matemática da 6ª série; foi esse homem que me salvou de morrer sufocado quando eu tinha poucos meses de vida; foi ele que me apoiou em todas as minhas decisões — inclusive mudar para uma cidade grande pra me formar professor.

— Ah, menino! Dá ‘seus pulo’!

Foi meu pai quem me colocou em cima de um cavalo pela primeira vez, que me deu um caqui verde pra comer, que me treinou pra ver piada em tudo.

E tudo que eu vou fazer na minha vida eu penso: “Meu pai disse isso e aquilo. Eu posso confiar nele. Cegamente.”

— Nossa! Pra burro só falta ‘as pena’.

— Uai, pai! Burro não tem pena.

— Então, já é um burro completo.

Meu pai é fodasticamente foda. Eu sou o fodinha.

Te amo!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Entendeu?

A casa ficava nos fundos de um boteco. Tinha dois cômodos separados por uma parede mal-acabada e um banheiro do lado de fora.

No primeiro compartimento, conviviam uma pia, uma televisão sobre um banquinho, um fogão enferrujado, uma poltrona que algum dia fora amarela, algumas garrafas de cerveja e um casal de ratos. Uma infiltração ali, uma rachadura aqui.

Esticado sobre a poltrona velha, um personagem magro com a mão direita dentro de uma calça jeans surrada, rasgada nos joelhos. Sua camisa florida estava aberta mostrando o peito magro com alguns pelos em volta do umbigo. A outra mão dependurada em algum lugar e um cigarro apagado se equilibrava nos lábios quase mortos.


Nessa hora, quando seus pensamentos estavam perdidos ou já nem existiam mais, um homem arrombou a porta enferrujada. Ele estava de terno e óculos escuros. Seus sapatos faziam barulho em contato com toda a sujeira daquela casa. Estava acompanhado de dois capangas.

Pegou um resto de cerveja que tinha numa das garrafas e despejou-o sobre a cabeça do maltrapilho deitado na poltrona encardida.

O sujeito acordou num sobressalto cuspindo o cigarro e tirando a mão de dentro da calça.

O magnata percebeu que o sujeito estava bastante acordado para entender o recado. Deu-lhe um tapa com as costas da mão e seu anel cortou o lábio do recém-acordado.

— Seu filho da puta! —gritou.

— O que é isso? — o outro perguntou. — Por que você fez isso?

O de terno aproximou-se do sujeito surrado e mostrou toda a sua raiva pela sua respiração. Era possível ver três cores diferentes em cada um de seus dentes.

— Você é um nada! Na verdade, eu nem sei porque eu tô aqui. Podia ter mandado os meus homens para te apagarem direto, mas... eu sou muito bonzinho.

— Quê?

— Quem mandou mexer com a mulher dos outros? — disse dando-lhe outro tapa. — Olha aqui, seu filho da puta, seu merdinha, eu não quero vê-lo mais andando perto da minha casa, tá me ouvindo? Ou melhor: você não deve se aproximar da minha casa num raio de... dois quilômetros! Entendeu?

— Entendi!

— Eu só não fiz nada com você hoje porque foram apenas suposições. Eu não sou de acreditar em fofocas. Se contente com minha generosidade. Mas da próxima vez... eu vou arrancar fora os seus colhões.

Foi a primeira vez que o outro arregalou o olho. O de terno deu-lhe mais um tabefe na cara e saiu com os capangas do mesmo jeito como tinham entrado.

O da poltrona bocejou e voltou a dormir. Acordou vinte minutos depois com o barulho de um salto alto vindo do outro cômodo, o qual chamava de quarto só porque tinha uma cama.

A dona do salto alto vinha prendendo o sutiã.

— Onde tá meu dinheiro?

Ele se levantou da poltrona e foi pra pia. Colocou a água pra esquentar naquele fogão imundo. Sempre com uma mão dentro da calça. Deu uma espreguiçada enquanto a mulher vestia uma blusinha.

Ele, arrastando os chinelos no chão, foi até a televisão. Tinha umas notas amarrotadas debaixo dela. Molhou o dedo com a língua e separou o da mulher.

— Isso aqui dá?

Ela tomou-lhe as notas rudemente. Molhou o dedo na língua e contou as notas pequenas.

— Essa é a última vez que eu faço por esse preço.

A cara dele era a mesma de um funcionário público quando recebe um “bom-dia”.

— Agora, vaza daqui, vadia!

A mulher saiu e ele continuou no preparo do café. Não tinha açúcar: bebeu amargo mesmo.

Sentou-se na poltrona enquanto ouvia um jornalista qualquer falando ali na televisão. Foi quando ele se lembrou de que tinha recebido uma visita naquele dia.

Colocou o café num canto e começou a pensar.

— O que foi que ele disse mesmo?

Coçava a barba, o umbigo e voltou a mão pra dentro da calça. Pegou o café e continuou assistindo ao jornal matinal.

— Isso vai dar merda!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Você


"Suspirar sem perceber,
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo pra te ver!"

Amar é, Roupa Nova

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Vá em frente


"Então, minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus."


Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Eu sou criança


[Eu vi esse texto numa comunidade do Orkut e... Ah, não tenho nem o que dizer!]
"Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores.

O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona um fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido demais, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. (Têm coisas que não precisam ser explicadas. Pelo menos não para mim).

Tenho um coração maior do que eu, nunca sei minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada).

Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de Jornal Nacional, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim.

Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo: eu não paro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei onde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono se você está feliz, se eu estou bonita, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim.

Não gosto de meias-palavras, de gente morna, nem de amar em silêncio. Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. E força não há de faltar porque – aqui dentro – eu carrego o meu mundo.

Sou menina levada, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu… Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura.

Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, um bilhete, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Todo dia é dia de ser criança e criança não liga pra preço, pra laço de fita e cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço e surpresa!

(E eu – como boa criança que sou – quero mais é rasgar o pacote!)"

Fernanda Mello